Resíduos de frutas na elaboração de geleia de melão Pele de Sapo
Use of fruit residues in the
production of Pele de Sapo melon jelly
Uso
de residuos de frutas en la elaboración de gelatina de melón Pelé de Sapo
Lumara Tatiely Santos Amadeu1; Rossana
Maria Feitosa de Figueirêdo2; Alexandre José de Melo Queiroz3; Carolaine
Gomes dos Reis4; Thalis
Leandro Bezerra de Lima5; Patrícia da Silva Costa6
1Mestranda em Engenharia Agrícola, Universidade Federal
de Campina Grande, Campina Grande, Paraíba, lumaratatiely1993@gmail.com;
2Professora no Centro de Tecnologia e Recursos Naturais,
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Paraíba, rossanamff@gmail.com; 3Professor
no Centro de Tecnologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina
Grande, Campina Grande, Paraíba, alexandrejmq@gmail.com; 4Mestranda em
Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande,
Paraíba, carolainetecalimentos@gmail.com;
5Mestrando em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina
Grande, Campina Grande, Paraíba, tthallisma@gmail.com;
6Doutoranda em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de
Campina Grande, Campina Grande, Paraíba, patriciagroambiental@gmail.com.
Recebido: 20/01/2020; Aprovado: 04/03/2020
Resumo: O aproveitamento
de resíduos do processamento de frutas para desenvolvimento de novos produtos
busca reduzir o desperdício, agregar valor a matéria
prima e inserir no mercado um alimento com maior conteúdo nutricional, tendo em
vista os compostos presentes em sementes e cascas. Diante disso, objetivou-se
elaborar e caracterizar geleias de melão Pele de Sapo, cujas
formulações foram: F1 [polpa: açúcar (1:1)]; F2 (F1 + 0,6% sementes de maracujá)
e F3 (F1 + 10% cascas de melão). A polpa e as geleias foram caracterizadas
quanto aos parâmetros físico-químicos e compostos bioativos. Verificou-se que as adições dos resíduos, com
destaque para as cascas de melão, apresentaram-se como uma boa opção de
aproveitamento, contribuindo com melhorias na qualidade do produto.
Palavras-chave: Cucumis melo L.; compostos bioativos; resíduos agrícolas.
Abstract: The utilization of
residues from fruit processing for the development of new products seeks to
reduce waste, add value to the raw material and insert a food with greater
nutritional content in the market, considering the compounds present in seeds
and peels. Therefore, the objective was to elaborate and characterize Pele
de Sapo melon jellies, whose formulations were:
F1 [pulp: sugar (1: 1)]; F2 (F1 + 0.6% passion fruit seeds) and F3 (F1 + 10%
melon peels). The pulp and jellies were characterized in terms of
physical-chemical parameters and bioactive compounds. It was found that the addition
of residues, especially melon peels, presented itself as a good use option,
contributing to improvements in product quality.
Key
words: Cucumis melo L.; bioactive
compounds; agricultural residues.
Resumen: El uso de residuos del procesamiento de frutas para el desarrollo de nuevos productos busca reducir el desperdicio,
agregar valor a las materias
primas e insertar un alimento con
mayor contenido nutricional
en el mercado, considerando
los compuestos presentes en las semillas
y las cáscaras. Por lo tanto, el objetivo era
elaborar y caracterizar las jaleas
de melón Pele de Sapo, cuyas
formulaciones fueron: F1 [pulpa: azúcar (1: 1)]; F2 (F1 +
0.6% semillas de maracuyá)
y F3 (F1 + 10% cáscaras de melón).
La pulpa y las jaleas se caracterizaron en términos de parámetros
físico-químicos y compuestos bioactivos.
Se descubrió que la adición de residuos,
especialmente las cáscaras
de melón, se presentaba como
una buena opción de uso, contribuyendo a mejorar la calidad del
producto.
Palabras clave: Cucumis melo L.; compuestos bioactivos; residuos agrícolas.
INTRODUÇÃO
O melão (Cucumis melo L.) é
uma das oleráceas mais populares do mundo,
mostrando-se rico em minerais como cálcio, fósforo, sódio, magnésio e potássio,
com um valor energético relativamente baixo, de 20 a 62 kcal/100 g de polpa e propriedades
medicinais, sendo considerado calmante, alcalinizante,
mineralizante, oxidante, diurético, laxante e emoliente (COSTA, 2017), além de
ser fonte de compostos bioativos (compostos fenólicos e
β-caroteno) que atuam como antioxidantes (LESTER, 2008).
É um fruto de grande importância para fruticultura,
sendo produzido em diversas regiões, sobretudo no Nordeste (FREITAS et al.,
2014), que segundo o IBGE (2018) é a região responsável por aproximadamente 95%
da produção nacional, sendo o Rio Grande do Norte (338.615 t) e o Ceará (85.219
t) os maiores produtores, onde a maior parte das frutas produzidas é absorvida
pela demanda interna, inclusive pela indústria processadora (ANUÁRIO, 2018).
Durante o processamento, aproximadamente 60% do melão,
o que inclui cascas, sementes e sobras dos cortes, é descartado como resíduo (MIGUEL
et al., 2008), gerando um desperdício que pode ser evitado tendo em vista as
alternativas de aproveitamento existentes. Esses resíduos são ricos em
vitaminas, minerais, lipídios e fibras que são compostos que possibilitam
inúmeros benefícios à saúde e sua utilização no desenvolvimento de novos produtos,
além de proporcionar a redução dos resíduos, contribui para o aumento do valor
agregado do produto final (STORCK et al., 2013).
As cascas de melão são constituídas principalmente por
carboidratos, proteínas, fibras, minerais, polifenóis e pectina, o que
possibilita sua utilização na elaboração de produtos alimentícios, como em
geleias e doces, promovendo a redução dos resíduos a serem descartados no meio
ambiente e enriquecendo nutricionalmente os produtos (MIGUEL et al., 2008;
STORCK et al., 2013).
As sementes do maracujá amarelo (Passiflora edulis Sims) são consideradas fonte de ácidos graxos,
com predominância do ácido linoleico, fibras insolúveis e proteínas, podendo
ser utilizadas na indústria alimentícia (GROSSELI et al., 2014; FALEIRO; JUNQUIERA,
2016).
Tendo em vista os nutrientes presentes nos resíduos advindos
da agroindútria, pesquisas têm sido realizadas na
elaboração de geleias acrescidas de cascas e sementes de frutas, proporcionando
características sensoriais inovadoras e contribuindo para o aumento da
qualidade nutricional do produto. Mesquita et al. (2017) verificaram que
sementes de mamão agregaram valor nutritivo às geleias de morango, com ótima
aceitação sensorial, e que a utilização de sementes de mamão apresenta-se como
uma boa alternativa para o aproveitamento de resíduos oriundos da
industrialização do mesmo. Vieira et al. (2017) avaliaram a aceitabilidade e
características físico-químicas de geleia mista de casca de abacaxi e polpa de
pêssego verificando que o produto elaborado apresentou aceitação satisfatória
para todos os atributos avaliados (aparência, sabor, aroma e cor).
Sendo assim, objetivou-se elaborar e caracterizar geleias
de melão Pele de Sapo, adicionadas de cascas do mesmo melão e sementes de
maracujá.
MATERIAL E
MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de
Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) da Unidade
Acadêmica de Engenharia Agrícola (UAEA), na Universidade Federal de Campina
Grande.
Processamento das matérias-primas
Utilizou-se melões (Cucumis melo L.) da variedade Pele de Sapo oriundos do município de
Mossoró, Rio Grande do Norte e maracujás
cv. Amarelo (Passiflora edulis Sims) adquiridos no comércio local
da cidade de Campina Grande – PB. Ambos os tipos de frutos foram recepcionados e
selecionados de acordo com estádio de maturação e ausência de danos físicos,
sendo em seguida submetidos à lavagem com
auxílio de esponja e posterior sanitização com solução de hipoclorito de sódio (150
ppm) durante 15 min e enxágue em água corrente. Logo
após, os melões foram descascados manualmente com facas de aço inoxidável,
havendo a separação manual da polpa, cascas e sementes. Tanto a polpa quanto as
cascas foram trituradas, separadamente, em liquidificador doméstico; em seguida apenas a polpa foi passada em peneira
obtendo-se a polpa refinada.
Os maracujás foram
cortados ao meio, separando-se a casca da polpa com sementes. A polpa com as
sementes foi passada em peneira para separação de ambos. Como restou resíduo de
polpa aderida às sementes, as mesmas foram cozidas em panela de aço inoxidável
em fogo brando por cerca de 5 min para que o resíduo da polpa de maracujá se
desprendesse (Figura 1A); em seguida essas sementes foram submetidas a
sucessivas lavagens em água corrente para eliminação final da polpa residual e transferidas
para peneira afim de eliminar a água superficial.
Figura 1. A: sementes de maracujá; B: cascas de melão cozidas; C: formulações -
F1, F2 e F3, respectivamente
Fonte: Autores (2020)
Elaboração das geleias
Foram
produzidas três formulações (Figura 1C) de geleias de melão Pele de Sapo do
tipo extra, cuja proporção corresponde a 50 partes de polpa e 50 partes de
açúcar. Na Tabela 1 têm-se as concentrações dos ingredientes para cada
formulação.
Antes
da elaboração das geleias, as cascas de melão foram pré-cozidas (Figura 1B) no vapor por 15 min. Após esse processo, inicialmente
misturou-se a polpa com água e metade do
açúcar e de acordo com cada formulação incorporou-se as sementes de maracujá ou as cascas de melão, sendo realizada a correção
do pH para faixa de 3,2 usando-se ácido cítrico, com o intuito de
compensar a deficiência da polpa, que apresenta
pH próximo da neutralidade. Posteriormente, as misturas
foram transferidas para recipientes de aço inoxidável e submetidas a cocção, sob
pressão atmosférica e com agitação manual. Imediatamente após a temperatura
atingir valores entre 65-70 oC
adicionou-se a pectina homogeneizada previamente com parte do açúcar, visando a
não formação de grumos na geleia, sendo em seguida adicionado o restante do
açúcar. A cocção foi mantida até que o produto atingisse entre 65 e 70
°Brix conforme Krolow (2013). As geleias foram acondicionadas
em potes de vidros com tampa metálica, previamente esterilizados com água a 100
°C durante 15 min para os recipientes e durante 5 min para as tampas. Após o
envase das geleias, os recipientes foram fechados e invertidos por cerca de 5
min para maior aquecimento da tampa e vedação da mesma, logo retornados a
posição de repouso. Por fim foram armazenadas sob refrigeração a 5 °C (UR
80-90%) até a realização das análises.
Tabela 1. Formulação das geleias de
melão Pele de Sapo do tipoextra |
|||
Ingredientes |
Concentração
(g) |
||
F1 |
F2 |
F3 |
|
Polpa de melão refinada |
500,00 |
500,00 |
500,00 |
Açúcar |
500,00 |
500,00 |
500,00 |
Água |
200,00 |
200,00 |
200,00 |
Pectina |
5,00 |
5,00 |
5,00 |
Ácido cítrico |
6,76 |
6,72 |
6,97 |
Sementes de maracujá |
- |
6,00 |
- |
Cascas de melão |
- |
- |
100,00 |
Caracterização físico-química das geleias
A polpa de melão e
as geleias foram caracterizadas em triplicata conforme os procedimentos
analíticos do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008) quanto aos seguintes parâmetros:
teor de umidade, pelo método gravimétrico
em estufa a vácuo a 70 °C até massa constante; cinzas pela incineração das amostras em mufla a
550 oC; sólidos solúveis totais em
refratômetro portátil; pH em pHmetro; acidez total titulável
por titulação da amostra com solução de NaOH a 0,1M;
açúcares totais, açúcares redutores e açúcares não redutores pelo método de Fehling. Os sólidos totais foram calculados por diferença
do teor de umidade e a atividade de água foi determinada a 25 °C através da leitura
direta em higrômetro Aqualab 3TE (Decagon
Devices, Pullman, EUA). O teor de ácido ascórbico foi determinado
segundo a metodologia da AOAC (2002), através da titulação com 2,6-diclorofenolindofenol sódio (DCFI), até
obtenção de coloração rosa claro persistente, utilizando-se ácido oxálico como
solução extratora (BENASSI; ANTUNES, 1998).
Em relação aos compostos bioativos, os
compostos fenólicos totais foram determinados de acordo com a metodologia descrita
por Waterhouse (2006) e as antocianinas e flavonoides
foram determinadas utilizando-se a metodologia descrita por Francis (1982).
Análise
estatística
O delineamento utilizado na análise
estatística dos parâmetros físico-químicos e compostos bioativos das geleias
foi o inteiramente casualizado com 3 tratamentos (F1,
F2 e F3) e 3 repetições com os dados submetidos à análise de variância (ANOVA)
e a comparação entre médias realizada usando o teste de Tukey
a 5% de probabilidade com auxílio do programa computacional Assistat
versão 7.7 Beta (SILVA; AZEVEDO, 2016).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Na Tabela 2 estão apresentados
os valores da caracterização físico-química da polpa de melão Pele de Sapo
refinada. Observa-se o valor de 91,79% para o teor de umidade, próximo ao
encontrado na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011), que é
de 91,3%. Valores superiores para o mesmo produto foram verificados por Silva
et al. (2011) com média de 95,75% e por Silva et al. (2016) que obteve 94,28%
para polpa de melão Cantaloupe. O teor de umidade está
relacionado diretamente com a conservação do produto durante seu armazenamento,
valores elevados proporcionará a ocorrência de reações químicas, bioquímicas e
o desenvolvimento de micro-organismos, que consequentemente poderá ocasionar a
deterioração do produto (VIEIRA et al., 2012; BARROS et al., 2019), tornando-se
um fator negativo. O teor de sólidos totais também se encontra próximo ao valor
identificado na Taco (2011), que é de 8,7%, demonstrando que apesar do
refinamento da polpa, o percentual de sólidos totais não sofreu grandes
alterações.
Tabela
2. Caracterização físico-química e compostos bioativos
da polpa de melão Pele de Sapo
refinada |
|
Parâmetros |
Polpa de melão refinada |
Teor
de umidade (%) |
91,79 ± 0,10 |
Sólidos
totais (%) |
8,21 ± 0,10 |
Atividade
de água (aw) 25 °C |
0,993 ± 0,001 |
Cinzas
(%) |
0,33 ± 0,01 |
pH |
6,13 ± 0,01 |
Acidez
total titulável (% ácido cítrico) |
0,18 ± 0,00 |
Sólidos
solúveis totais (°Brix) |
8,00 ± 0,00 |
Ácido
ascórbico (mg/100 g) |
0,26 ± 0,00 |
Açúcares
redutores (% glicose) |
3,49 ± 0,02 |
Açúcares
não redutores (% sacarose) |
0,31 ± 0,01 |
Açúcares
totais (% glicose) |
3,81 ± 0,01 |
Compostos
fenólicos totais (mg/100 g) |
36,32 ± 0,01 |
Flavonoides
(mg/100 g) |
0,84 ± 0,01 |
Antocianinas
(mg/100 g) |
0,09 ± 0,01 |
Para atividade de água, observa-se
média de 0,993 e para o teor de cinzas 0,33%, sendo este valor inferior ao
encontrado por Silva et al. (2011) e Jesus et al. (2016) para polpa de melão
Pele de Sapo (0,72%) e polpa de melão concentrada (0,81%), respectivamente, o
que pode ser explicado devido ao refinamento no qual a polpa em questão foi
submetida.
Para os parâmetros pH, acidez total titulável e sólidos solúveis totais, obteve-se valores de
6,13, 0,14% ácido cítrico e 8,0 °Brix,
respectivamente, sendo inferiores aos valores encontrados por Dalastra et al. (2016), em três variedades de melão, na
qual o melão Pele de Sapo deteve valores médios de 6,49 para o pH, 0,24% de
ácido cítrico para a acidez total titulável e 13,15 °Brix para os sólidos solúveis totais. Morgado et al.
(2015) identificaram valor médio de 13,15 °Brix para
melões rendilhados ‘Louis’. As diferenças nos valores dos parâmetros
físico-químicos e compostos bioativos identificados em produtos agrícolas, estão
associados ao clima e ao solo de onde provieram, incluindo-se o eventual uso de
fertilizantes e de irrigação, estádio de maturação, variedade, entre outros
fatores (KHAN et al., 2014).
O ácido ascórbico, com
valor médio de 0,26 mg/100 g, encontra-se abaixo do determinado por Jesus e
seus colaboradores (2016) em polpa de melão concentrada (1,26 mg/100 g), sendo
assim, pode ser considerado baixo para derivado de fruta, podendo estar
associado ao tempo entre o despolpamento e a realização da análise, tendo em
vista sua baixa estabilidade frente a diversos agentes, se degradando facilmente
em meio alcalino, calor, luz e metais (Fe, Cu e Zn), além de enzimas (CHIM et
al., 2013; MOURA et al., 2019).
Verifica-se que o
valor médio dos açúcares redutores foi de 3,49% de glicose estando acima da
média identificada por Russo et al. (2012) para melão Valenciano amarelo cv. inodorus,
sendo esta de 1,81%, o que pode implicar em maior doçura na polpa do
melão Pele de Sapo refinada. Essa diferença pode estar relacionada as
variedades de melões e com o grau de maturação dos frutos coletados. Os açúcares
redutores apresentaram maior valor que os não redutores, comportamento esperado,
pois de acordo com Bastos et al. (2016) polpas de frutas apresentam maior
conteúdo de glicose e frutose, quando comparado ao conteúdo de sacarose.
Para os compostos fenólicos
totais, o valor médio de 36,33 mg/100 g supera o reportado por Fu et al. (2011)
em estudo para determinar o conteúdo presente em 62 frutas, no qual encontraram
para o melão Cantaloupe valor médio de 31,50 mg EAG/100
g; e por Brito (2017) ao avaliar 6 variedades de melões, identificando para a
polpa de melão Pele de Sapo valor médio de 17,2 mg EAG/100 g.
Na Tabela 3 tem-se os valores médios
da caracterização físico-química e dos compostos bioativos das três formulações
de geleias de melão Pele de Sapo. Os teores de umidade variaram de 23,60 a
29,71% onde a amostra F1 apresentou o menor teor 23,60%) e consequentemente o
maior teor de sólidos totais (76,40%) em relação às demais formulações. A adição de sementes de maracujá ou da casca de melão Pele
de Sapo ocasionaram o aumento do teor de umidade, no entanto o valor médio
do parâmetro em ambas as amostras mantiveram-se abaixo do valor máximo preconizado
pela legislação brasileira (38%) (BRASIL, 1978).
Tabela 3. Caracterização físico-química e compostos bioativos
das geleias de melão Pele de Sapo. |
|||
Parâmetros |
F1 |
F2 |
F3 |
Teor
de umidade (%) |
23,60 ± 0,11c |
27,32 ± 0,52 b |
29,71 ± 0,35a |
Sólidos
totais (%) |
76,40 ± 0,11a |
72,68 ± 0,52b |
70,29 ± 0,35c |
Atividade
de água (aw) 25 °C |
0,790 ± 0,001c |
0,825 ± 0,002a |
0,822 ± 0,001b |
Cinzas
(%) |
0,28 ± 0,01b |
0,29 ± 0,01b |
0,36 ± 0,00a |
pH |
2,97 ± 0,01b |
2,99 ± 0,02b |
3,16 ± 0,01a |
Acidez
total titulável (% ácido cítrico) |
0,90 ± 0,00a |
0,87 ± 0,00b |
0,87 ± 0,00b |
Sólidos
solúveis totais (°Brix) |
67,83 ± 0,29a |
65,00 ± 0,00c |
65,83 ± 0,00b |
Ácido
ascórbico (mg/100 g) |
0,61 ± 0,00b |
0,46 ± 0,01c |
0,84 ± 0,01a |
Açúcares
redutores (% glicose) |
29,76 ± 0,30a |
16,29 ± 0,07c |
24,28 ± 0,15b |
Açúcares
não redutores (% sacarose) |
31,91 ± 1,01b |
43,95 ± 0,46a |
32,92 ± 0,46b |
Açúcares
totais (% glicose) |
63,35 ± 1,09a |
62,55 ± 0,44a |
58,93 ± 0,39b |
Compostos
fenólicos (mg/100 g) |
66,49 ± 0,47b |
64,78 ± 0,08c |
99,24 ± 0,08a |
Flavonoides
(mg/100 g) |
0,92 ± 0,01c |
1,12 ± 0,01b |
4,00 ± 0,01a |
Antocianinas
(mg/100 g) |
0,05 ± 0,01c |
0,09 ± 0,01b |
0,24 ± 0,01a |
F1 – geleia de melão; F2 -
geleia de melão + 0,6% sementes de maracujá; F3 – geleia de melão + 10%
cascas de melão. Médias seguidas por letras
iguais na mesma linha, não diferem entre si a 5% de significância, pelo teste
de Tukey. |
Os valores de
atividade de água diferiram estatisticamente para todas as geleias e variaram
entre 0,790 e 0,825, valor aproximado foi identificado por Silva et al. (2018)
ao avaliarem geleia com resíduos de polpa de morango (0,763), valor esse
justificado pelos autores por ser um produto com alto teor de açúcares, visto
que a água envolve os cristais de açúcar presente no material. De acordo com
Oliveira et al. (2012) a atividade de água influência na estabilidade do
produto, de modo que alimentos que apresentem valores entre 0,60 e 0,85 para
este parâmetro estão suscetíveis a deterioração por bolores e leveduras. Dessa
forma se torna necessária adição de conservantes para garantir a segurança do
produto contra o desenvolvimento microbiano, aumentando consequentemente sua
vida de prateleira (LEMOS et al., 2019).
Para
o teor de cinzas, observa-se que as geleias F1 e F2 não diferiram estaticamente
entre si, enquanto a F3 apresentou maior percentual. Miguel et al. (2008) afirmaram que as cascas de melão
apresentam teor de cinzas de 0,98% e Jorge et al. (2009) relataram que as sementes
de maracujá apresentam cerca de 1,47%, assim verifica-se que apesar das
sementes de maracujá apresentarem maior percentual de cinzas, sua concentração nas
geleias é inferior (16 vezes menor) a das cascas de melão, o que justifica o
maior percentual na formulação F3. Outros autores relataram teores de cinzas
próximos aos encontrados no presente trabalho, como Garcia et al. (2017),
trabalhando com geleia de buriti (0,25%) e Oliveira et al. (2014b) com geleia de
umbu-cajá (0,40%).
Os valores
quantificados para o pH, variaram entre 2,97 e 3,16, o que é um fator positivo,
pois segundo Kadam
e Balasubramanian (2011) pH
inferiores a 4,5 resultam em um crescimento reduzido de micro-organismos, porém
em valores abaixo de 3,0 ocorre tendência a sinérese (TELES et al., 2017). Resultados semelhantes foram encontrados por Paiva
et al. (2015) ao estudarem geleia de melão e geleia mista de acerola e melão,
com valores de 3,07 e 3,27, respectivamente.
Em relação aos sólidos
solúveis totais, todas as amostras diferiram estatisticamente entre si e variaram
de 65,00 a 67,83 °Brix estando em conformidade com o
intervalo (65–70 °Brix) mencionado por Krolow (2013). A variação entre as geleias com relação a este parâmetro está
relacionada ao tempo de cocção sob a qual cada formulação ficou exposta, além
da quantidade desse parâmetro da matéria-prima utilizada.
Para
a acidez total tiulável, observa-se que a amostra F1 diferiu
estatisticamente das demais, com valor médio de 0,90% de ácido cítrico. Valor
semelhante foi identificado por Silva et al. (2019) para geleias de abacaxi com
15% de extrato de hibiscos, obtendo valor médio de 0,85% de ácido cítrico. As amostras
produzidas apresentaram maior percentual de acidez em relação a polpa refinada,
em função da adição de ácido cítrico durante sua produção. Krolow
(2013) relatou que a adição de ácidos orgânicos é necessária em geleias para
compensar qualquer deficiência do conteúdo natural das frutas, contribuindo
para se obter boa geleificação, evitando a cristalização
do açúcar durante o armazenamento e realçando o sabor das frutas.
Os teores de ácido
ascórbico das formulações diferiram estatisticamente entre si, atingindo maior
valor na amostra F3 com 0,89 mg/100 g, o que pode estar associado ao tempo de
cocção e a composição nutricional das cascas que de acordo com Storck et al. (2013) são fontes de vitaminas. Valor semelhante
para esse parâmetro foi reportado por Souza et al. (2019) em geleias de
bocaiuva com maracujá, também com 0,89 mg/100 g. Entre a polpa de melão Pele de
Sapo refinada (0,26 mg/100 g) e a geleia F1 (0,61 mg/100 g), ocorreu um aumento
do ácido ascórbico, comportamento provavelmente relacionado ao aumento da
concentração, resultante da cocção.
Verifica-se
ainda que as geleias apresentaram maior percentual de açúcares não redutores
quando comparado com os açúcares redutores, sendo o mesmo comportamento
observado por Silva et al. (2013) ao avaliarem geleia de cajá, podendo ser
justificado em razão da adição de grande quantidade de sacarose (açúcar
cristal) às geleias, que é o principal açúcar não redutor. Outro fator que pode
ser apontado para justificar a predominância dos açúcares não redutores em
algumas geleias é a menor inversão da sacarose durante o processo de cocção (OLIVEIRA
et al. 2014a). Valores inferiores aos encontrados nas formulações foram
quantificados por Vieira et al. (2017) em geleia mista de casca de abacaxi e
polpa de pêssego com teores de açúcares totais e redutores de 44,56 e 18,90
g/100 g, respectivamente. De acordo com Barros
et al. (2019) a sacarose no processo de cocção auxilia na retenção de umidade e
altera parâmetros como sabor, textura, cor e aroma; e os açúcares redutores presentes
na geleia conferem brilho ao produto e podem proporcionar o atraso da
cristalização da sacarose que interfere consequentemente na diminuição do nível
de doçura das mesmas (JACKIX, 1988).
Observa-se
diferenças estatísticas entre as médias dos compostos fenólicos, flavonoides e antocianinas,
apresentando-se os maiores teores na amostra F3, com valores médios de 99,24,
4,00 e 0,24 mg/100 g respectivamente. Ao avaliarem geleia de maracujá com
sementes de linhaça marrom, Moura et al. (2019) observaram valores de 1,04 a
1,94 mg/100 g para as antocianinas e de 5,30 a 7,17 mg/100 g para flavonoides;
Lemos et al. (2019) reportaram valores médios de 2,92 a 6,79 mg/100 g para as
antocianinas, em geleias de acerola e jabuticaba; Souza et al. (2018) identificaram
para a geleia mista de umbu e mangaba teor dos compostos fenólicos com valor
médio de 75 mg/100 g, estando dentro da faixa determinada para as geleias de
melão Pele de Sapo (64,78 a 99,24 mg/100 g); valores
próximos também foram relatados por Lima (2018) para geleias de uva e
mista (carnaúba + uva) com valores médios dos compostos fenólicos de 73,12 e
107,20 mg AGE/100 g, respectivamente.
De acordo com Rufino
et al. (2010) teores de compostos fenólicos totais inferiores a 100 mg/100 g classificam
a polpa de melão e as geleias produzidas como baixo teor de compostos fenólicos.
Apesar disso, observa-se que houve uma concentração desse parâmetro,
flavonoides, antocianinas e ácido ascórbico nas geleias com relação a polpa de
melão, apresentando-se como uma boa opção nutricional, visto que estes
compostos possuem atividade antioxidante que atuam na redução de radicais
livres associados à redução do risco de doenças cardiovasculares e
neurodegenerativas (ABOUL-ENEIN et al., 2013).
CONCLUSÕES
As formulações das
geleias são opção de aproveitamento da polpa e casca de melão Pele de Sapo e
das sementes de maracujá.
A adição das sementes de
maracujá e casca de melão aumenta os teores de cinzas, compostos fenólicos,
flavonoides e antocianinas nas geleias de melão e reduz a acidez.
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