Potencial zoonótico do Ophidascaris robertsi e sua relevância para a medicina veterinária

Autores

  • Thyago Araújo Gurjão FRCG
  • André Luiz do Bú Lucena

Palavras-chave:

zoonótico, parasitas

Resumo

Concomitantemente à crescente interação entre seres humanos e animais silvestres, emerge-se a preocupação da
incidência de doenças de caráter zoonótico. A descoberta científica mais recente, publicada na revista “Emerging
Infectious Diseases", na edição de setembro de 2023, refere-se ao achado de um exemplar de Ophidascaris robertsi no
cérebro de uma australiana de sessenta e quatro anos de idade. O incidente despertou a atenção, tanto da comunidade
científica como da população em geral, para o déficit de estudos dedicados à investigação de parasitas ofídicos
potencialmente patogênicos à espécie humana, além de medidas profiláticas capazes de impedir que esses eventos
isolados venham a se tornar uma questão cotidiana. Nessa perspectiva, a presente pesquisa objetivou investigar, em
material teórico, estudos que contemplassem a biologia do Ophidascaris robertsi, com foco em seu ciclo evolutivo, de
modo a elucidar a importância desse parasita no âmbito das ciências médicas veterinárias. Os representantes do gênero
Ophidascaris (Baylis, 1921) são nematódeos heteroxenos de corpo mais ou menos cilíndrico, coloração geralmente
branco-amarelada, e cutícula estriada transversalmente com extremidades atenuadas, cujo comprimento pode atingir
grandes dimensões que variam desde 34 a 152 mm nos machos e 38 a 181 mm nas fêmeas. Ophidascaris robertsi
(Sprent & Mines, 1960) é uma espécie de nematódeo que normalmente detém tropismo gastrointestinal, sendo
encontrada em condições naturais no endotélio esofágico e/ou gástrico de diversas espécies selvagens em Queensland,
na Austrália. Uma ampla variedade de hospedeiros intermediários é observada no ciclo de vida do O. robertsi, contudo,
o desenvolvimento do parasita está diretamente ligado à espécie infectada, ocorrendo de forma completa em roedores e
marsupiais, como rato-do-mato (Rattus fuscipes assimilis), bandicoots (Isoodon macrourus e Perameles nasuta),
phascogale (Phascogale tapoatafa) e gambá-orelhudo (Trichosurus caninus). Esses são hospedeiros intermediários e
presas naturais da píton-tapete (Morelia spilota), até então, considerada a única hospedeira definitiva para a forma
adulta madura do parasita. A serpente infectada libera em suas fezes ovos de O. robertsi contendo larvas de segundo
estágio, as quais podem alcançar diversos herbívoros vertebrados e invertebrados – que atuam como hospedeiros
intermediários paratênicos primários. Esses, ao serem predados, transferem as larvas para os hospedeiros intermediários
paratênicos secundários, representados por répteis, aves e mamíferos predatórios, incluindo roedores e marsupiais
predados pela píton-tapete. Um crescimento ou desenvolvimento adicional do parasita é observado no fígado de aves e
mamíferos, nos quais completa a segunda muda, alcançando o terceiro estágio larval; porém, sem atingir o comprimento
necessário para efetuar a terceira muda, que ocorre exclusivamente em répteis. A presença de parasitas adultos imaturos
foi observada em diversos lagartos infectados experimentalmente, como lagarto sem pernas (Lialis burtonis) e lagarto
de língua azul (Tiliqua scincoides); no entanto, nenhuma dessas espécies foi registrada como hospedeiro natural para O.
robertsi, sugerindo uma especificidade ecológica e fisiológica que restringe o amadurecimento sexual do parasita, até o
momento, à M. spilota. Diante do exposto, infere-se, como apontado por Petter (1960), a possível atuação do ser
humano como hospedeiro intermediário paratênico primário no ciclo do O. robertsi, adquirindo o terceiro estágio larval
do parasita a partir da ingestão de alimentos contaminados com fezes de serpentes. A detecção deste parasita em um ser
humano sublinha a necessidade de compreender melhor sua biologia, ciclo de vida e mecanismos de transmissão. Ao
fazê-lo, fornece-se insumos para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle mais eficazes, mitigando os
riscos para a saúde humana e a conservação da fauna silvestre.

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Publicado

2023-10-22

Como Citar

Gurjão, T. A. ., & André Luiz do Bú Lucena. (2023). Potencial zoonótico do Ophidascaris robertsi e sua relevância para a medicina veterinária. Caderno Verde De Agroecologia E Desenvolvimento Sustentável, 2(1). Recuperado de https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/CVADS/article/view/10185

Edição

Seção

V FÓRUM DE MEDICINA VETERINÁRIA FRCG

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