Responsabilidade civil-tributária do Estado
DOI:
https://doi.org/10.18378/rbfh.v14i2.11407Palavras-chave:
Assimetria de poder; Responsabilização pedagógica, Accountability.Resumo
A relação entre o Fisco e o contribuinte é marcada por uma assimetria de poder, na qual o Estado, ao exercer coercitivamente seu poder de tributar, coloca o cidadão em posição de vulnerabilidade. Embora a responsabilidade civil do Estado tradicionalmente cumpra uma função indenizatória, sua eficácia preventiva e pedagógica é frequentemente negligenciada, permitindo a persistência de práticas arbitrárias por parte da administração tributária. Essa dinâmica contrasta com setores como o Direito do Consumidor, em que sanções severas induzem ao respeito aos direitos, enquanto, no âmbito tributário, a impunidade de agentes públicos e a morosidade na reparação perpetuam desequilíbrios. Diante disso, o estudo propõe analisar como a responsabilização do Estado pode assumir um caráter pedagógico, transcendendo a mera reparação para coibir abusos e promover equidade na relação fiscal. Utilizando uma metodologia qualitativa, baseada em revisão bibliográfica de autores como Troianelli (2004), Machado (1998) e Sierra (1997), demonstra-se que a responsabilidade civil do Estado, quando associada à imputação pessoal de agentes públicos, transforma-se em ferramenta educativa. A análise revela que a ausência de consequências individuais para gestores incentiva condutas ilegais, já que a responsabilidade financeira recai sobre o erário, e não sobre os autores diretos dos atos. Conclui-se que a combinação entre reparação estatal e responsabilização pessoal desestimula práticas abusivas, fortalecendo a cultura de legalidade e transparência. Além disso, a jurisprudência evidencia que danos morais decorrentes de cobranças indevidas, inscrições em cadastros restritivos ou violação de sigilo fiscal reforçam a necessidade de um modelo sancionatório-pedagógico. Esse enfoque não apenas repara injustiças, mas também redefine a postura do Fisco, alinhando-a aos princípios constitucionais da boa-fé e da proporcionalidade. Assim, a função pedagógica da responsabilização emerge como mecanismo essencial para equilibrar a relação tributária, assegurando que o poder estatal seja exercido com accountability e respeito aos direitos fundamentais do contribuinte.
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